sábado, 14 de março de 2015

Uma seleção de poemas para o Dia Nacional da Poesia

Você já deve saber que hoje, 14 de março, é comemorado o Dia Nacional da Poesia. A data, uma homenagem ao "poeta dos escravos" Castro Alves, é uma ótima oportunidade de lembrar os grandes nomes da poesia brasileira.

Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Olavo Bilac, Ferreira Gullar, Gonçalves Dias e Paulo Leminski, queridinho das redes sociais, são alguns deles.

E é com esses que comemoro o dia, presenteando os leitores com uma deliciosa seleção de poemas. No final, incluí entre os grandes poetas dois textos amadores que arranquei do varal poético do Restaurante Universitário da UFRN. Divirtam-se!

Soneto de Fidelidade (Vinicius de Moraes)

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Bem no Fundo (Paulo Leminski)

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

O mundo é grande (Carlos Drummond de Andrade)

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Soneto XIII - Via Láctea (Olavo Bilac)

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Dois e dois: quatro (Ferreira Gullar)

Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena
embora o pão seja caro
e a liberdade pequena

Como teus olhos são claros
e a tua pele, morena

como é azul o oceano
e a lagoa, serena

como um tempo de alegria
por trás do terror me acena

e a noite carrega o dia
no seu colo de açucena

– sei que dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena

mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.

Razão de ser (Paulo Leminski)

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Soneto de separação (Vinicius de Moraes)

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Desejo (Leocy Saraiva)

Dormi despida,
jogada a Morfeu,
na persistente ilusão
de que a qualquer instante
seu corpo pudesse vestir o meu.

Nota de rodapé (Marina Rabelo)

Ah! A liberdade de escrever só, sem crítica, sem
mídia, sem dó.
Escrevendo o que convém, sem leitor, espectador,
sem ninguém;
sem pretensão, multidão, sem razão,
apenas escrevendo, como quem ouve uma canção.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Os vencedores do Oscar 2015

Apontado como favorito, Birdman levou os principais prêmios no Oscar 2015: melhor filme, diretor, roteiro original e ainda fotografia. Desbancou outro favorito, Boyhood, rodado por 12 anos, cujo único prêmio foi por atriz coadjuvante para Patricia Arquette.

Nas outras categorias de atuação, pouca surpresa. Eddie Redmayne ganhou como melhor ator pelo Stephen Hawking de A Teoria de Tudo, Julianne Moore como melhor atriz por Para Sempre Alice e J.K. Simmons como coadjuvante por Whiplash.

A imagem da noite: Meryl se empolga com discurso de Patricia Arquette.
POLÍTICA

A premiação foi marcada pelo tom político. John Legend, que subiu ao palco para interpretar a melhor canção original, Glory, do longa Selma, tocou no tema da igualdade racial. Patricia Arquette pediu equiparação salarial entre homens e mulheres em Hollywood, conquistando o apoio de Meryl Streep na plateia, tão vibrante que se transformou em meme nas redes sociais. O melhor diretor, Alejandro González Iñárritu, pediu melhores condições de vida para os imigrantes nos Estados Unidos. "Quero dedicar este prêmio a todos os meus companheiros mexicanos", disse.

Graham Moore, melhor roteiro adaptado por O Jogo da Imitação, fez o discurso mais emocionante da noite e citou Alan Turing, o cientista retratado que ficou célebre por decifrar códigos alemães na Segunda Guerra e é um dos pais da ciência da computação. Ele se suicidou em 1954 dois anos após ser submetido a uma castração química por ser homossexual. "Gostaria de dedicar esse momento aos jovens por aí que sentem que são estranhos ou diferentes ou que não se encaixam - sim, vocês se encaixam", discursou, após contar que tentou suicídio aos 16 anos.

Mais engajamento político quando Glenn Greenwald subiu ao palco para receber o prêmio de melhor documentário para Citizenfour, sobre Edward Snowden, que desbancou O Sal da Terra, sobre o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

QUEM LEVOU!

Melhor Filme
Sniper Americano
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Boyhood - Da Infância à Juventude
O Grande Hotel Budapeste
O Jogo da Imitação
Selma
A Teoria de Tudo
Whiplash: Em Busca da Perfeição

Melhor Diretor
Alejandro González Inárritu - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Richard Linklater - Boyhood - Da Infância à Juventude
Bennett Miller - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Wes Anderson - O Grande Hotel Budapeste
Morten Tyldum - O Jogo da Imitação

Melhor Atriz
Marion Cotillard - Dois Dias, Uma Noite
Felicity Jones - A Teoria de Tudo
Julianne Moore - Para Sempre Alice
Rosamund Pike - Garota Exemplar
Reese Witherspoon - Livre

Melhor Ator
Steve Carell - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Benedict Cumberbatch - O Jogo da Imitação
Michael Keaton - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Eddie Redmayne - A Teoria de Tudo
Bradley Cooper - Sniper Americano

Melhor Ator Coadjuvante
Robert Duvall - O Juiz
Ethan Hawke - Boyhood - Da Infância à Juventude
Edward Norton - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Mark Ruffalo - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
J.K. Simmons - Whiplash: Em Busca da Perfeição

Melhor Atriz Coadjuvante
Patricia Arquette - Boyhood - Da Infância à Juventude
Laura Dern - Livre
Keira Knightley - O Jogo da Imitação
Meryl Streep - Caminhos da Floresta
Emma Stone - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Melhor Canção Original
Everything is Awesome, por Shawn Patterson, Joshua Bartholomew, Lisa Harriton, The Lonely Island - Uma Aventura Lego
Glory, por John Legend, Common - Selma
Grateful, por Diane Warren - Beyond the Lights
I'm Not Going to Miss You, por Glen Campbell - Glen Campbell: I'll Be Me
Lost Stars, por Gregg Alexander, Danielle Brisebois, Nick Lashley, Nick Southwood - Mesmo Se Nada Der Certo

Melhor Roteiro Adaptado
Jason Hall - Sniper Americano
Graham Moore - O Jogo da Imitação
Paul Thomas Anderson - Vício Inerente
Anthony McCarten - A Teoria de Tudo
Damien Chazelle - Whiplash: Em Busca da Perfeição

Melhor Roteiro Original
Alejandro González Iñárritu, Nicolás Giacobone, Alexander Dinelaris, Armando Bo - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Richard Linklater - Boyhood - Da Infância à Juventude
Dan Futterman, E. Max Frye - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Wes Anderson, Hugo Guinness - O Grande Hotel Budapeste
Dan Gilroy - O Abutre

Melhor Longa de Animação
Operação Big Hero
Os Boxtrolls
Como Treinar o Seu Dragão 2
Song of the Sea
O Conto da Princesa Kaguya

Melhor Documentário em Longa-Metragem
Citizenfour
Vietnã: Batendo em Retirada
Virunga
A Fotografia Oculta de Vivian Maier
O Sal da Terra

Melhor Filme Estrangeiro
Ida (Polônia)
Leviatã (Rússia)
Tangerines (Estônia)
Timbuktu (Mauritânia)
Relatos Selvagens (Argentina)

Melhor Fotografia
Emmanuel Lubezki - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Robert D. Yeoman - O Grande Hotel Budapeste
Ryszard Lenczewski, Lukasz Zal - Ida
Dick Pope - Mr. Turner
Roger Deakins - Invencível

Melhor Figurino
Milena Canonero - O Grande Hotel Budapeste
Mark Bridges - Vício Inerente
Colleen Atwood - Caminhos da Floresta
Anna B. Sheppard, Jane Clive - Malévola
Jacqueline Durran - Mr. Turner

Melhor Documentário em Curta-Metragem 
Crisis Hotline: Veterans Press 1
Joanna
Our Curse
The Reaper (La Parka)
White Earth

Melhor Edição
Sniper Americano
Boyhood - Da Infância à Juventude
O Grande Hotel Budapeste
O Jogo da Imitação
Whiplash: Em Busca da Perfeição

Melhor Maquiagem e Cabelo
Bill Corso, Dennis Liddiard - Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo
Frances Hannon, Mark Coulier - O Grande Hotel Budapeste
Elizabeth Yianni-Georgiou, David White - Guardiões da Galáxia

Melhor Trilha Sonora
Alexandre Desplat - O Grande Hotel Budapeste
Alexandre Desplat - O Jogo da Imitação
Hans Zimmer - Interestelar
Gary Yershon - Mr. Turner
Johann Johannsson - A Teoria de Tudo

Melhor Design de Produção
Adam Stockhausen, Anna Pinnock - O Grande Hotel Budapeste
Maria Djurkovic, Tatiana Macdonald - O Jogo da Imitação
Nathan Crowley, Gary Fettis, Paul Healy - Interestelar
Dennis Gassner, Anna Pinnock - Caminhos da Floresta
Suzie Davies, Charlotte Watts - Mr. Turner

Melhor Animação em Curta-Metragem
The Bigger Picture
The Dam Keeper
O Banquete
Me and My Moulton
A Single Life

Melhor Curta-Metragem
Aya
Boogaloo and Graham
Butter Lamp
Parvaneh
The Phone Call

Melhor Edição de Som
Alan Robert Murray, Bub Asman - Sniper Americano
Martín Hernández, Aaron Glascock - Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)
Brent Burge, Jason Canovas - O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos
Richard King - Interestelar
Becky Sullivan, Andrew DeCristofaro - Invencível

Melhor Mixagem de Som
Sniper Americano
Interestelar
Invencível
Whiplash: Em Busca da Perfeição
Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Melhores Efeitos Visuais
Capitão América 2 - O Soldado Invernal
Guardiões da Galáxia
Planeta dos Macacos 2 - O Confronto
Interestelar
X-Men - Dias de Um Futuro Esquecido

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Repórter "se monta" para matéria de Carnaval

Na Folha de S.Paulo é assim: missão dada é missão cumprida. Depois do editor que passou cinco dias sem água, foi a vez de um repórter se transformar. Como muitos homens fazem no Carnaval, William Mur, da equipe de infografia, se vestiu de mulher, auxiliado por duas drag queens.


A incumbência foi para uma matéria do site, um passo a passo sobre como "se montar" pro Carnaval. Um vídeo de making of, que está no YouTube e pode ser conferido acima, acompanhou a transformação de Mur e das transformistas Tiffany Bradshaw e Penelopy Jean, além de mostrar um antes e depois do processo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Em Salvador, até o prefeito cai na folia

Um prefeito que gosta de carnaval e uma cidade em que a folia não para. Combinação perfeita, não? Pois a tal cidade é Salvador e o tal prefeito é ACM Neto (DEM), que ontem (9) se divertiu ao som de Milla, hit de Netinho nos anos 90, em um bloco de rua.

O momento de alegria foi filmado e postado no YouTube. Também está no Instagram de Neto, em meio a outros registros de seu dia a dia como chefe do Executivo municipal.


"REINCIDENTE"

Conhecido pela fama de baladeiro nos tempos de Câmara Federal, Neto costuma frequentar os eventos de Salvador na condição de prefeito, mas não se faz de rogado. Canta, dança e tira fotos com o público.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Editor da Folha passa cinco dias sem água para matéria

Quem disse que vida de jornalista é fácil? O editor do caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo, Ivan Finotti, passou cinco dias sem abrir as torneiras para uma matéria sobre o rodízio de água, medida aventada pelo governo paulista em meio à crise hídrica.


O resultado da aventura à la Mad Max do jornalista foi publicada hoje (8) no caderno Cotidiano. Acima, é possível acompanhá-la em vídeo: uma ducha inspirada no trapalhão Didi Mocó, outra com o auxílio de um regador e banhos na academia fizeram parte da "epopeia hídrica".

Finotti encarou a missão com muito bom humor, mas fez questão de destacar que não foi uma experiência tão simples. "Esquecer 2.000 anos de civilização em uma semana não é tarefa fácil para o homem moderno", resumiu no início de seu texto, que pode ser lido na íntegra aqui.

RODÍZIO

O governo de São Paulo estuda abastecer as regiões que dependem do sistema Cantareira sob regime de rodízio. A medida prevê dois dias com água e cinco sem, mas ainda não tem data para entrar em vigor.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

Desejo realizado

Sempre quis ter um blog. Era menino quando ouvi falar pela primeira vez sobre eles e desde então sou fascinado. A possibilidade de escrever e ter onde publicar meus textos foi o que me atraiu de súbito.

Na adolescência, cheguei a ter alguns, mas nada duradouro. Quando os começava, pouco tempo depois interrompia devido aos afazeres do dia a dia e às atividades do ensino médio, que consumia a mim e a todos os alunos do IFRN - que ainda chamávamos de CEFET.

Um blog, porém, prosperou e durou alguns meses. Mas eu precisava de boas notas e doar tempo a um espaço como este não ia me ajudar. Era a época das primeiras descobertas, logo viria o primeiro amor e, pra encerrar a fase juvenil, o temido vestibular. Todos esses acontecimentos desviaram minhas atenções e o desejo de ter minha própria página ficou adormecido.

Com a aprovação no vestibular e o início da faculdade de Jornalismo, ele voltou renovado: eu precisava de um espaço que servisse de laboratório para o escritor/jornalista em gestação. Precisava praticar a escrita, esta que seria meu ganha-pão no futuro.

E foi assim que, depois de alguns anos sentado nas cadeiras da UFRN, eu tomei vergonha na cara e enfim coloquei no ar o blog que cobrei a mim mesmo e planejei durante anos.

Ao café da vida de repórter, eu adicionei uma grande mistura de coisas e montei um "prato" diverso: cultura, televisão, política, literatura, cinema, jornalismo... E por aí vai.

Com a sensação de dever cumprido e desejo realizado, é com muito prazer que digo: bem-vindos ao Café com Salada!